Gravidez invisível com Luciane Cruz

Por uma nova cultura sobre a maternidade e a paternidade através adoção no Brasil.

E hoje o Prosa de outras Mãe é em forma de entrevista… e de um assunto muito e muito interessante… Adoção!! Conheci a Luciane através de um e-mail dela para mim… contando um pouco da sua história, sua luta e desse universo “novo” de se gerar no coração e porque não ter o parto do coração… assim ela me encantou e me fez ver com outros olhos todo esse processo. E hoje ela está aqui pra contar um pouco da sua história…

  1. Fale um pouco de você. Quem é, o que faz, é casada, quanto tempo bloga… Sou gaúcha, mas, morei 5 anos em Londres na Inglaterra e 3 anos em São Paulo. Sou casada há 10 anos mais com os 4 anos de namoro estamos juntos há 14 anos. Trabalho na área de administração de empresas há uns 10 anos. Quando entrei com o processo de adoção em 2011, decidi iniciar um blog para relatar minhas experiências, buscar ajuda e ajudar de certa forma. Com o tempo o blog foi tomando outra proporção, fui conhecendo mais sobre o universo da adoção no nosso país e hoje tenho este sonho plantado no meu coração: contribuir para uma nova cultura da adoção no Brasil.
  2. Como foi se descobrir que seria uma mãe que geraria no coração? Foi um processo muito tranquilo e natural. Minha mãe biológica faleceu quando eu tinha 3 anos de idade. Continuei morando com meu pai e a nova esposa dele, porém, quando eu tinha 9 anos eles se separaram e eu fui morar com os meus tios e padrinhos. Minha tia era irmã mais velha da minha mãe. Por eles eu fui adotada e recebida com muito carinho como filha. Não teve um processo de adoção em si mas eles tinham a minha guarda de fato. Desde adolescente sempre tive este sonho de adotar. Em 2000, conheci meu marido Filipe . Logo que começamos a namorar ele e a minha sogra me contaram que ele não poderia ter filhos biológicamente falando. Desde o momento que me contaram, sinceramente nunca foi um problema, pois eu já tinha o desejo da adoção plantado no meu coração. Nos casamos em 2004 quando ainda morávamos em Londres. Logo após o casamento começamos a pensar em filhos e já sabíamos a nossa decisão. Algumas pessoas da nossa família sugeriram que fizéssemos a inseminação artificial, porém, já estávamos convictos da nossa escolha, e então em 2006 decidimos voltar ao Brasil para iniciar o processo de adoção aqui.
  3. Achei lindo ir no seu blog e ler: gravidez invisível, conte um pouco desse sentimento/sensação.  A gravidez do coração é muito difícil de vivenciar. O fato das pessoas não visualizarem uma barriga crescendo dificulta a compreensão de que você também está gerando no seu coração um filho que cedo ou tarde vai chegar. O Brasil ainda não tem uma cultura positiva sobre a adoção, então, até que você tenha a criança nos braços nada é feito e pouco é falado. Você não recebe presentes, mimos, carinhos e você não é vista como uma grávida. E para agravar ainda mais a situação normalmente não sabemos o sexo, a idade, e quando esta criança vai chegar. Então, da nossa parte também fica difícil preparar um quarto, comprar roupas, presentes, tudo aquilo que uma grávida quer fazer. É um processo sofrido mas de muito crescimento. “A gravidez da adoção se dá no coração, este órgão que fica localizado no peito e que está cheio de sentimentos, sensibilidade, afeição e amor por um ser que não foi gerado embaixo dele, mas DENTRO dele. Temos consciência da realidade desta gestação, adquirimos muita coragem para enfrentá-la e aprendemos a mensurar o seu valor durante o tempo de espera.” – Luciane Moreira Cruz
  4. Quais os problemas enfrentados para conseguir a adoção? Os processos de adoção no Brasil são demorados. É totalmente compreensível a documentação exigida, as entrevistas com psicólogas, assistentes sociais, a habilitação para adoção. Porém, o que não se compreende é a demora da destituição do pátrio poder da família biológica para que as crianças estejam aptas para adoção. A maioria das crianças que vivem em abrigos não estão disponíveis para adoção. E o problema não é só do sistema que é lento, mas das próprias leis que priorizam ao máximo a busca por alguém com vínculo de sangue que queira adotar a criança e deixam como a última opção as famílias que desejam adotar e estão habilitadas pela equipe técnica e com todo amor do mundo pra dar a esta criança.
  5. Como lidar com a espera? Com muita calma. Desfrutando a vida, um dia de cada vez. Eu fiz meu pré-natal com uma psicóloga, frequentei grupo de apoio à adoção, acompanhei alguns blogs, li alguns livros, enfim, fui atrás de informação, capacitação para esta minha escolha e também curti a vida. Viajar é sempre bom, recomendo! rsrsrs
  6. Como foi o momento do encontro com seu filho? Adaptação… o que mudou em sua vida? Foi o momento em que eu me vi mais próxima do Céu. Foi divinamente lindo. Me lembro como se fosse hoje, eu e meu marido no carro, indo ao encontro do nosso príncipe. Parecia uma cena de filme. Em meia hora passou um resumo de toda a nossa espera na minha mente. Na hora do nascimento, no momento em que ele foi colocado nos meus braços, eu o aproximei do meu peito e sussurei para ele: “Nós te esperamos tanto meu filho, tenha a certeza que você já é muito amado!”. Ao meu redor parecia que tudo estava parado e em silêncio, mas eu sabia que os céus estavam vibrando com mais uma família formada pelas mãos de Deus. Lágrimas escorrem do meu rosto só de lembrar deste momento lindo, único, abençoado. Sempre digo que foi como se eu tivesse recebido um beijo do céu. (Faço referência aqui ao livro “O beijo do céu” da Darlene Zschech) Quanto a adaptação é como de qualquer mãe, leva seu tempo mais tudo se ajeita! Tudo muda, rotina, tempo, mas para melhor!!! Luciane8
  7. Sei que está na espera pelo segundo filho: Como saber quem será escolhido? Não tem como saber. Na verdade você define um perfil com a psicóloga durante o processo de habilitação para adoção. E quando tem uma criança disponível para adoção a equipe técnica procura a próxima pessoa da lista que tem o perfil adequado para aquela criança. O foco é no interesse da criança, do que será melhor para ela.
  8. Dicas para quem pretende adotar  Se você está pensando em adotar, busque informações o quanto antes. Vá ao fóro da sua cidade, veja a lista de documentos e assim que entregar acompanhe o processo. Esse processo de habilitação pode levar um ano por isso não demore pensando muito, faça pois o processo todo demora, eu me arrependi de não ter entrado com o processo antes, mas enfim! Após o deferimento da habilitação a assistente social informará a média do tempo de espera para o perfil definido de acordo com a sua cidade. Daí, precisa de muita calma nesta espera, mas parabéns, você está grávida!
  9. Um recadinho para as nossas leitoras, que estão sabendo e vendo essa gravidez invisível pela primeira vez.  A adoção é apenas mais um caminho para se chegar a tão sonhada maternidade e paternidade. Não pense que toda a criança que for adotada poderá gerar problemas no futuro por causa da sua história … isso é preconceito (JUÍZO PRÉ-CONCEBIDO, É uma ideia formada antecipadamente e que não tem fundamento sério.) Existem muitos exemplos positivos de adoção. Infelizmente a mídia, principalmente as novelas, retratam a adoção de uma forma muito equivocada…. e até parece que todos os filhos biológicos são perfeitos…. se assim fosse, não teríamos tantos problemas nas famílias e na sociedade hoje em dia, não é verdade?! Não é o fato de ter sido adotado ou não que determina o caráter de uma pessoa. Na dúvida, acesso o nosso blog rsrsrs

Luciane7 Luciane4

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26 Comentários

  1. Olá,

    Que linda esta iniciativa.
    Adorei a história.

    Mãe é mãe… não importa se o filho é adotado ou não. bjs,

  2. Nossa que história linda… Acho muito bonito esse gesto de adotar e amar uma criança que não saiu do seu ventre .
    Beijos

  3. Que história mais linda e comovente. Com certeza ter filho biológico vai além de gerar. Adotar é um ato de amor por criança indefesa que esta em busca de um lar e muito amor.
    Infelizmente a demora e dificuldade para adotar é muito grande, acho que poderia ser menos boracratico. E que venha o próximo filho do coração. Bjs
    Vivi e Isaac

  4. Achei linda a tua historia.
    Me emocionei muito com a grandeza do teu gesto, e o tamanho do amor que se percebe na tua narrativa.
    Vou passar no teu blog para conhecer mais.
    Parabéns!
    Bjinhos.
    http://www.prosaamiga.com.br

  5. Adorei o post.
    Se o processo fosse mais favorável as crianças serem felizes, tudo talvez seria mais tranquilo… Mas eles dão preferência aos pais da criança, caso mudem de ideia…. E muitas crianças crescem e acabam não sendo adotadas…
    Achei linda sua história Lu, e com certeza o blog deve ajudar e apoiar outras mães, que assim como vc, tem um coração enorme, disposta a ajudar, ser feliz e fazer um filho feliz também. Super apoio a ideia de adoção, acho um lindo ato de amor. Gostaria muito de adotar também. Tenho uma prima que ficou na fila, e a adoção apareceu depois de 10 anos… Ela nem esperava mais, quando aconteceu… Foi lindo, ela teve uma filha, e está muito feliz.
    Bjs
    Ju
    http://www.maesemfronteiras.com.br/

  6. Que post legal. Essas experiencias são tão bacanas que merecem ser compartilhadas!

  7. QUe relato emocionante!! Imagino a sua expectativa, sua espera…é como uma gravidez mesmo!!
    Felicidades para vocês!
    Bjs

  8. Bom dia Luciane e Cris!
    Não resta dúvida que histórias de adoção são sempre regadas de amor e beleza. Quanto ao ato acho maravilhoso… Eu queria ter muuuuitos filhos… Se pudesse adotaria sempre para ter sempre criança em casa…
    Em 2011, mesmo com nossa Maria, entramos na fila de adoção. Fizemos todos os procedimentos necessário. A assistente social também nos visitou para conhecer a familia. Não “exigimos” (não gosto dos termos de escolha para a criança) etnia, nem sexo. Apenas a idade e localização para buscar a criança caso tivéssemos essa benção… Mas a assistente social disse que poderiamos esperar por cerca de 6 anos.

    Tivemos uma gravidez rapida, no inicio do casamento, mas ja estavamos na cabeça que se não viesse, adotariamos…

    Hoje meu marido desanimou devido o tempo passado. Mas em meu coração ainda tenho essa vontade e se aparecesse iria convencê-lo novamente a isso.. Minha Maricotinha vive pedindo um irmão e seria uma bênção se Deus nos presenteasse com mais um filho… Mas tudo está nas mãos Dele não é mesmo?

    Obrigada pelo relato. Vou conhecer o blog.. Um beijo grande..

    Teresinha e Maria

  9. que história linda, eu tb pretendo adotar uma criança.
    Adoção é muito importante e pai e mãe é quem cria e educa.

  10. infelizmente uma burocracia
    acho que deveria ser mais fácil uma adoção
    parabéns por um gesto tão maravilhoso
    amei a entrevista

    Boa Noite
    beijokas da Nanda

    Mamãe de Duas
    Google+Nanda

  11. Muito linda história! tanta criança precisando de um lar! adorei bjo

  12. Eu acho essa atitude linda, se eu não pudesse ter filhos eu adotaria com certeza por que mãe é quem cria. Linda sua história. Bjss

  13. Puxa que bonita historia e que dificil neh? Eu sei que o processo é muito lento e que a maioria dos futuros pais querem criancas menores, o que acaba dificultando ainda mais o processo. Mas e’totalmente compreensivel. Fico feliz que ela tenha conseguido dar o amor que tem guardado para uma pessoinha tao pequena e indefesa.

    bjos
    Mari
    Clube da fraldinha
    http://www.clubedafraldinha.com

    1. Obrigada pelo carinho Mari! Beijos, Luciane.

  14. Eu engravidei e tenho uma baby, mas mesmo assim sempre pensamos, eu e meu marido, em também adotar uma criança.
    Sempre pensamos que mãe e pai é quem cria e não quem apenas coloca no mundo.

    Bjs

  15. Acho muito bonito e fico imensamente feliz em ver estas crianças tendo lares onde seus pais amam de verdade. Tenho um sobrinho adotivo e muito amado por todos.
    Beijos
    Adri

  16. Eu acho muito bonito quem abre o coração para a adoção. Não são todas as pessoas que conseguem entender que mãe e pai, é quem cria e não só quem gera. Muitas vezes o coração supera a genética. Lindo!
    Beijocas

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